WEB SÉRIE DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA: MARXISMO PARTE 4

A implantação do marxismo perpassa pela cultura, com esse olhar Dr Rômulo Félix apresenta com riquezas de detalhes a proposta da Doutrina Social da Igreja sobre a cultura e marxismo.

A REVOLUÇÃO CULTURAL MARXISTA

Como dito na terceira parte dessa série de textos sobre o marxismo, o Estado marxista busca realizar uma mudança cultural, especialmente por meio da educação, para fazer avançar seus planos de criação da sociedade utópica sem classes idealizada nessa ideologia. Essa mudança cultural promovida por todo Estado que possui um governo marxista, é necessária para o avançar de seus ideais já que a concepção de homem por parte dos marxistas é radicalmente contrário à natureza do próprio homem e por isso acaba por receber uma natural oposição por parte de grande parte das pessoas. Daí o emprego de seus esforços para fazer o homem crescer com seus conceitos já modificados, desde a infância, para os conceitos socialistas sobre a realidade humana e assim, visam abolir essa natural oposição, o que sabemos ser impossível, mas se pode, pelo menos, embotar as mentes das pessoas quanto ao que é verdade e amenizar as naturais oposições que surgem diante de uma cultura tão contrária a natureza do homem.

O Papa Pio XI, na sua Encíclica Quadragesimo anno, já denunciava em 1931 esse “socialismo educador” que buscava a formação das inteligências e dos costumes já desde a tenra infância, buscando atingir todas as idades e condições para formar o homem “socialista”, ou seja, um homem com seus conceitos e visão da realidade construídos sobre o ideal socialista e, assim, construir uma sociedade plasmada por esse ideal. 1 Esse movimento, por parte dos marxistas, para modificação da cultura, ficou conhecido como revolução cultural marxista e um de seus inspiradores foi o filósofo socialista Antônio Gramsci (1891 – 1937) que viu na URSS os limites da teoria marxista, tomando consciência da necessidade da mudança de cultura para a implantação da mentalidade socialista. 2

Outro grande inspirador da revolução cultural foi o filósofo socialista Hebert Marcuse (1898 – 1979), membro da Escola de Frankfurt, fundada pelo socialista e filósofo Georg Lukács (1885 – 1971) que, junto com outros filósofos socialistas, teve como objetivo o estudo da civilização ocidental com o intuito de destruí-la para suplantá-la com uma nova civilização socialista. 2 Dentre os filósofos da Escola de Frankfurt, Marcuse foi o que mais se destacou com relação ao plano adotado e o que obteve maior sucesso prático. Esse movimento de revolução cultural pensado por Marcuse ficou conhecida pelo termo marcusianismo.

A principal base teórica do marcusianismo foi o livro de Marcuse chamado Eros e Civilização, escrito na década de 50, no qual ele traça o programa da revolução hippie, da revolução sexual e do pacifismo. Ele propõe uma união entre o pensamento de Freud e de Marx ao defender a tese de que o americano é puritano e que, por reprimir o sexo, é extremamente agressivo e para superar tal agressividade, os americanos precisam fazer guerra. Como o sistema capitalista precisa de mercados, as guerras são úteis para o imperialismo americano conquistar o mundo. A repressão sexual seria um dos meios para manter o sistema capitalista de pé, segundo Marcuse, pois ao tornar as pessoas agressivas, leva a guerras e, automaticamente, acaba por atrasar a implantação da nova sociedade marxista no mundo. 2

É preciso, então, que o homem reprimido, puritano, faça sexo. Daí surge o lema de Marcuse: “faça amor, não faça a guerra”, onde o amor deixa de ser o doar-se inteiramente até a cruz, se preciso for, para o outro, como é o amor cristão, para ser simplesmente um “sexo livre” e tal modificação no seio da sociedade americana teve como consequência a revolução sexual ocorrida na década de 1960 e que teve no Festival de Woodstock de 1969 o seu grande símbolo, a qual abriu um caminho sem precedentes para todas as outras revoluções no campo da moral ocorridos no mundo nos séculos XX e XXI, chegando ao seu atual ápice na ideologia de gênero. 2 Além disso, também abriu caminho para os grandes ataques à lei moral no campo da legislação, como podemos observar nas últimas décadas, como por exemplo as aprovações de leis que descriminalizam do aborto, que legalizam a eutanásia, que aprovam o casamento homossexual e a adoção de crianças por pares homossexuais, que legalizam e até promovem a esterilização, a anticoncepção e tantas outras leis que se opõe à Moral Católica.

Podemos então dizer que um dos pais da revolução sexual foi Hebert Marcuse. Segundo ele, fazendo sexo os jovens iriam se tornar pacifistas, não fariam guerras, o que faria com que o sistema capitalista caísse. Assim, o movimento hippie e Woodstock, iniciadores da revolução sexual, que pareciam ser apenas fruto da decadência do modelo da sociedade americana, que também é uma verdade, ou seja, fruto do capitalismo decadente e materialista, na realidade são também fenômenos inoculados na sociedade americana pelos marxistas. 2

Uma característica da revolução cultura marxista é que, apesar de ter como base ideológica o marxismo, ela não se prende a ele, se abrindo a outras ideologias, filosofias e até religiões para que, unido a eles, possam alcançar a modificação cultural que almejam, modificação essa que tem a oposição à Moral Católica como um denominador comum e foi assim que, de forma especial, o marcusinismo alcançou seu êxito a ponto de ter hoje a maioria dos governos mundiais e de instituições internacionais sob sua inspiração. 3

As grandes características da revolução cultural são os constantes ataques contra a lei natural e contra a Revelação Divina em Jesus Cristo, ou seja, contra a Doutrina Social da Igreja que, por isso mesmo, é o ÚNICO remédio contra ela. Podemos verificar em todo o processo de revolução cultural os elementos que evidenciam a oposição à Moral Católica com a massiva propaganda: de leis favoráveis à descriminalização do aborto; de leis favoráveis ao “casamento” homossexual; de inclusão da ideologia de gênero nas grades curriculares; de leis contra a liberdade dos cristãos de professarem sua fé e tantos outros exemplos que podemos resumir em um único termo, que a Igreja tem utilizado com frequência: cultura da morte. A cultura revolucionária promovida pelas ideologias e em especial pelo marxismo, nas suas mais variadas formas, é uma cultura que tem a morte como fim, seja a biológica, seja a espiritual, já que o fim de toda essa revolução nada mais é que a descristianização da sociedade e, uma sociedade sem Cristo, é uma sociedade sem Vida. Sem Cristo o homem não reconhece sua dignidade e nem a do próximo e não há outro fruto que possa vir como consequência que não seja a morte e os séculos XX e XXI nos provam essa verdade.

Para encerrar essa série de textos sobre o marxismo, quero fazer um alerta a todos os católicos: não se unam a nenhuma ideologia, sejam elas quais forem, para com elas realizar a justiça social que sonham. Toda ideologia carrega o erro de uma visão errônea sobre o homem e como consequência acabam por gerar soluções incompletas e até ruins que se voltam contra o próprio homem, contra toda a sociedade humana e toda a criação. Nós católicos temos a Graça de poder contar com a Doutrina Social da Igreja que, com sua visão total sobre o homem, na sua dimensão imanente e transcendente, verdadeiramente ilumina todas as realidades da vida política, social e econômica e somente iluminados por Ela podemos realizar a verdadeira justiça social e o verdadeiro cuidado de toda a criação de Deus e, consequentemente, a construção de um mundo mais justo e fraterno.

DR Rômulo Félix

Salve Maria e Viva Cristo Rei!

Rômulo Felix do Rosario, casado, pai de 5 filhos, sendo 3 no Céu, médico pediatra, professor no Centro Anchieta (www.centroanchieta.org), uma iniciativa de fiéis católicos que visa promover a cultura católica nos mais variados âmbitos da vida do homem tendo como finalidade a busca da santidade. Coordenador do Projeto Social Vida, um grupo pró-vida da paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, área pastoral de Vila Velha e Ministro Extraordinário da Distribuição da Sagrada Comunhão Eucaristia na mesma paróquia.

Referências:

  1. Papa Pio XI, Encíclica Quadragesimo anno, parte III, socialismo educador.
  2. https://padrepauloricardo.org/aulas/reacao-a-crise-marxista
  3. https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs09089804.htm