WEB SÉRIE DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA: MARXISMO PARTE 3

Dr Rômulo Félix apresenta o homem no seu contexto/ambiente na visão marxista e os pontos que estão opostos à Doutrina Social da Igreja.

A IDEIA MARXISTA DO HOMEM, DA ECONOMIA, DO ESTADO E DA SOCIEDADE

Agora farei uma breve explicação das ideias marxistas quanto ao homem, à economia, ao Estado e à sociedade. As explicações não visam detalhar tudo sobre cada uma dessas ideias, mas fazer o leitor ter uma visão geral do que essencialmente está em oposição à Doutrina Social da Igreja.

A ideia marxista sobre o homem

O marxismo renega o individualismo liberal, mas em oposição não crê que o homem seja autônomo e capaz de uma liberdade responsável e por isso o homem é definido como um cidadão, membro de uma sociedade e carece de todo o direito que não lhe seja designado pelo Estado. 1

A raiz dessa imagem falsa do homem é o pessimismo marxista sobre ele, em oposição à imagem otimista do “bom selvagem” do liberalismo rouseauniano, 2 pelo menos em sua fase intermediária da ditadura do proletariado. A imagem marxista do homem é que ele é naturalmente mal e incapaz de mudar tal natureza e, por isso, deve ter sua liberdade negada pelo Estado para o bem de toda a sociedade. 1 Tal visão pessimista do homem, assim como a visão otimista liberal, não estão em conformidade com a visão realista católica em que o homem foi criado bom, mas teve sua natureza maculada pelo pecado original que deixou marcas de pecado em sua natureza, mas ele não foi deixado nessa condição decaída, pois Deus deixou na natureza humana virtudes que o podem fazer capaz de ser bom, mesmo que imperfeitamente, e, acima de tudo, tal visão nega o auxílio da Graça Divina que não só faz o homem ascender em virtudes, como o pode fazer perfeitamente bom, em Jesus Cristo.

Essa concepção pessimista do homem e essa transferência excessiva de autoridade ao Estado, tem funestas consequências para todo o tecido social, em especial para a família que não é reconhecida como um corpo natural, por isso, não se reconhece também sua fundação sobre o homem e a mulher estando os filhos exclusivamente a eles subordinados. Também não se reconhece que a família é dotada de uma autoridade e liberdade particulares, estando seus membros, segundo a concepção marxista, subordinados à uma autoridade superior estatal.

Mas a família, como afirma o Papa Leão XIII na sua Encíclica Rerum novarum, “é uma sociedade propriamente dita, com a sua autoridade e o seu governo paterno, é por isso que sempre indubitavelmente na esfera que lhe determina o seu fim imediato, ela goza, para a escolha e uso de tudo o que exigem a sua conservação e o exercício duma justa independência, de direitos pelo menos iguais aos da sociedade civil. Pelo menos iguais, dizemos Nós, porque a sociedade doméstica tem sobre a sociedade civil uma prioridade lógica e uma prioridade real, de que participam necessariamente os seus direitos e os seus deveres.” 3 Nesse trecho da Encíclica de Leão XIII, fica evidente que qualquer ação estatal que mine a autoridade dos pais na educação e cuidado dos filhos é uma grave afronta aos princípios católicos. Leis que restringem a autoridade dos pais são frequentes em governos de base marxista e devem ser veementemente combatidos pelos católicos e por todas pessoas de boa vontade. O Estado só deve interferir no seio de uma família, e assim mesmo não de forma absoluta, quando a mesma estiver numa situação de grave crise social ou quando em seu seio ocorrer graves violações de direitos humanos, 3 mas são situações de exceção e não podem ser a regra.

A ideia marxista sobre a economia

Tal ideia pode ser resumida na seguinte afirmação de André Philip, Ministro de Finanças de governos socialistas da França entre 1946 e 1947, retirada do livro A Ordem Natural do tomista argentino Carlos Alberto Sacheri: “O socialismo é ação dos trabalhadores para estabelecer, mediante suas organizações, uma direção coletiva da vida econômica e uma socialização das empresas monopólicas, a fim de acelerar o progresso técnico, garantir uma justa distribuição dos produtos e fazer participar os trabalhadores das responsabilidades essenciais da vida econômica e social.” 1 Pode parecer aos olhos de muitos algo positivo essa ideia descrita, mas ao desconfiar do indivíduo, o socialismo transfere à “sociedade”, ente anônimo e coletivo, o poder de decisão que será de fato exercido por um conselho ou por um grupo restrito, não responsável, em nome dos trabalhadores. 1 Tal ideia é uma oposição radical ao princípio da subsidiariedade, já que a “sociedade” assume o papel que cabe aos indivíduos e estes que deveriam estar inseridos nos corpos intermediários, que não existem no socialismo, já que são absorvidos pelo Estado. 4

Claro que, apesar desse desastroso modelo de economia socialista ainda existir no nosso tempo em alguns países, ele já não é o mais utilizado pelos novos modelos de governo de base marxista, que, atualmente, fazem uso do modelo keynesiano ou social-democrata. Não cabe ao texto explicar no consiste a social-democracia e especificar seus erros, basta apenas compreendermos que, como dito acima, não importa tantas teorias a serem produzidas no meio marxista, pois toda e qualquer doutrina que faça uso de elementos marxistas, se corrompe e corrompe tudo o que dela frui.

A ideia marxista de Estado e sociedade

É uma característica do marxismo ser estadista, já que é fundamento dessa teoria o pessimismo quanto ao homem e a delegação ao Estado da promoção da utópica sociedade sem classes e que, quando esse estágio for atingido, segundo essa teoria, esse Estado desapareceria, por perder sua serventia. Para tanto, é necessário um Estado grande e detentor de todo o poder sobre a sociedade para que ele promova essa progressão à sociedade utópica. Em outras palavras, o Estado deve ser totalitário.

Quando falamos que o Estado deve ter todo poder sobre a sociedade humana (totalitário), estamos dizendo que o Estado deve ter poder sobre todos os âmbitos da sociedade como a política, a economia e a cultura, ou seja, o Estado fundamentado pela ideologia marxista deve centralizar em si todas as decisões de cada um dos âmbitos acima citados, por isso, os marxistas, sejam os mais radicais, sejam os mais mitigados, defendem estatizações, para que as empresas estejam sob o domínio do Estado; defendem leis que aumentem os poderes e regalias das autoridades políticas, para que possam gozar da liberdade e autoridade necessárias para fazer avançar os planos em direção à sociedade utópica que idealizam; defendem o controle da mídia, seja ela qual for, para que ela possa ser colaboradora de seus planos e não um empecilho para eles; defendem uma reengenharia da cultura, onde se busca modificar até a raiz a cultura de um povo e sobrepô-la com a visão marxista de sociedade. Em especial, agem em oposição ao cristianismo, especialmente contra sua Moral, considerado o maior empecilho no campo cultural para fazer avançar seus planos; e, além disso, defendem que a autoridade sobre a educação das crianças não deve estar a cabo dos pais, mas sim do Estado, seja nas Escolas estatais, seja na grade curricular escolhida pelo Estado, a ser adotada por todas as escolas da nação, grade curricular essa que progressivamente e paulatinamente vai excluindo a base cultural vigente, em especial a cristã, e substituindo-a por uma base socialista, por isso, se busca, via leis, exigir que as crianças sejam colocadas na escola em idade cada vez mais precoce.

Tais ações do Estado, com base ideológica marxista ,visam uma mudança cultural no seio da sociedade, especialmente na troca da cultura cristã por uma cultura plasmada pelo ideal socialista e tais ações podem ser resumidas num único termo: revolução cultural marxista e esse assunto será tratado no próximo texto da série sobre a ideologia marxista.

Salve Maria e Viva Cristo Rei!

Rômulo Felix do Rosario, casado, pai de 5 filhos, sendo 3 no Céu, médico pediatra, professor no Centro Anchieta (www.centroanchieta.org), uma iniciativa de fiéis católicos que visa promover a cultura católica nos mais variados âmbitos da vida do homem tendo como finalidade a busca da santidade. Coordenador do Projeto Social Vida, um grupo pró-vida da paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, área pastoral de Vila Velha e Ministro Extraordinário da Distribuição da Sagrada Comunhão Eucaristia na mesma paróquia.

DR Rômulo Félix

Referencias:

  1. A Ordem Natural, Carlos Alberto Sacheri, Edições Cristo Rei, 1 ed., p. 86 – 90.
  2. https://www.bompastorpraia.com.br/web-serie-doutrina-social-da-igreja-liberalismo
  3. Papa Leão XIII, Encíclica Rerum novarum, nº 6.
  4. https://www.bompastorpraia.com.br/o-principio-da-subsidiariedade/